O processo de conversão de uma carteira de motorista estrangeira para uma japonesa, conhecido como gaimen kirikae, tem gerado amplas discussões no Japão, motivadas por preocupações crescentes com segurança no trânsito e regulamentações. O tema tem ganhado destaque devido a relatos de dificuldades no procedimento, práticas controversas e incidentes envolvendo motoristas estrangeiros.

O sistema atual permite que estrangeiros convertam suas habilitações após realizarem um exame escrito com apenas 10 questões no formato verdadeiro/falso e um teste prático de habilidades, cuja taxa de aprovação é de 29%. A simplicidade desse processo tem sido alvo de críticas. Enquanto os cidadãos japoneses enfrentam um rigoroso exame escrito com 95 questões para obter a habilitação, o processo de conversão para estrangeiros é considerado mais flexível. Além disso, há relatos de casos em que endereços de hotéis foram registrados como residência na habilitação japonesa, levantando preocupações sobre a rastreabilidade e a autenticidade dos motoristas.

O gaimen kirikae tem atraído um grande número de estrangeiros, especialmente da China, onde a carteira de motorista japonesa é vista como uma oportunidade de dirigir em cerca de 100 países signatários da Convenção de Genebra. Como a China não faz parte da convenção, a obtenção de uma habilitação japonesa torna-se um ativo valioso, o que tem impulsionado significativamente a demanda por esse tipo de conversão.

Essa situação tem gerado desconforto entre a população, especialmente após casos de acidentes graves envolvendo motoristas estrangeiros. Em março deste ano, o governo japonês incluiu o setor de transporte automotivo na categoria de "habilidades específicas", um tipo de visto que facilita a residência de trabalhadores estrangeiros. Além disso, o número de idiomas disponíveis para o exame foi expandido para 24, ampliando o acesso ao sistema. Essas mudanças, aliadas ao crescente interesse na China, resultaram em um "boom" de estrangeiros em busca da habilitação japonesa.

Satsuki Katayama, presidente interina do Centro de Pesquisa Política do Partido Liberal Democrata, destacou a importância de coletar dados sobre os candidatos estrangeiros, incluindo suas nacionalidades, número de solicitações e causas de acidentes envolvendo motoristas que obtiveram habilitação por meio do gaimen kirikae. Segundo ela, é essencial avaliar como as regras de trânsito dos países de origem desses motoristas influenciam sua conduta nas estradas japonesas.

Satsuki Katayama

Embora o sistema tenha como objetivo facilitar a integração de estrangeiros no trânsito japonês, críticos alertam que ele pode ser excessivamente permissivo, comprometendo a segurança e criando desigualdade em relação às exigências feitas aos motoristas locais. O debate continua, com especialistas e autoridades pressionando por maior rigor nas regulamentações, a fim de garantir a segurança e a confiabilidade do trânsito no Japão.

Ponto de vista

No Japão, persiste a visão de que estrangeiros são frequentemente culpados por incidentes no trânsito. Essa percepção reflete um preconceito enraizado, ignorando que a imprudência no trânsito não é exclusiva de uma nacionalidade. Generalizações como essa prejudicam a integração e obscurecem o verdadeiro debate sobre segurança e educação no trânsito, que deve incluir todos os motoristas, independentemente de sua origem.