Após oito meses de sua estreia nos Estados Unidos, o tão aguardado filme "Oppenheimer" finalmente chegou às telas do Japão na última sexta-feira. A narrativa, centrada na figura do cientista americano J. Robert Oppenheimer, responsável pelo desenvolvimento da bomba atômica durante o Projeto Manhattan, despertou uma gama de reações entre os cineastas japoneses, marcadas pela confusão e pela intensa carga emocional.
Para muitos japoneses, o filme resgata memórias dolorosas dos eventos que ocorreram há 79 anos, quando as cidades de Hiroshima e Nagasaki foram devastadas pelos ataques nucleares. Toshiyuki Mimaki, que sobreviveu ao bombardeio de Hiroshima aos três anos de idade, expressou seu fascínio pela história de Oppenheimer, ao mesmo tempo em que questionava as motivações por trás dos trágicos acontecimentos. Em uma entrevista à Associated Press, ele compartilhou sua angústia ao perguntar: "O que estavam a pensar os japoneses, ao realizarem o ataque a Pearl Harbor, iniciando uma guerra que nunca poderiam esperar vencer?"
Mimaki, atual presidente de uma organização de vítimas de bombas no Japão, assistiu ao filme em um evento de pré-estreia e expressou sua surpresa diante da ausência de uma representação direta dos horrores vivenciados em Hiroshima e Nagasaki. "Durante todo o filme, esperei e esperei que a cena do bombardeio de Hiroshima acontecesse, mas isso nunca aconteceu", lamentou.
Robert Oppenheimer
"Oppenheimer" se concentra na complexidade do próprio cientista e em seus dilemas internos, deixando de lado a representação detalhada dos eventos nos quais as bombas foram lançadas sobre as cidades japonesas. Essa abordagem, embora focada na figura central, levantou críticas entre aqueles que esperavam uma narrativa mais abrangente e impactante.
O lançamento do filme no Japão foi marcado pela apreensão devido à sensibilidade do tema. O ex-prefeito de Hiroshima, Takashi Hiraoka, que participou de um evento de pré-estreia do filme na cidade do sudoeste, expressou sua insatisfação com o que considerou omissões significativas. "Do ponto de vista de Hiroshima, o horror das armas nucleares não foi suficientemente retratado", afirmou, criticando a visão apresentada pelo filme de que a bomba atômica foi usada para "salvar vidas americanas".
A chegada de "Oppenheimer" às telas japonesas não apenas reviveu memórias dolorosas, mas também estimulou um debate profundo sobre a representação histórica e ética dos eventos que moldaram o século XX. Enquanto alguns elogiam a abordagem focada no protagonista, outros clamam por uma narrativa mais abrangente que honre integralmente as vítimas e os horrores da guerra nuclear.
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