Um caso estarrecedor de negligência e aparente descaso das autoridades japonesas veio à tona na cidade de Akashi, província de Hyōgo. A estudante Erina Yamagute, então com apenas 10 anos e aluna da escola Sawaike Shogakko, sofreu uma grave lesão no pescoço durante uma aula de educação física, ao realizar uma cambalhota. A violência do movimento deslocou sua cabeça, deixando-a em uma posição anormal e sem sustentação.
O comportamento da escola após o incidente é o que mais choca. Segundo o relato angustiante de sua mãe, Delma Rodrigues Yamagute, a instituição sequer se dignou a contatá-la para informar sobre o ocorrido. A menina permaneceu nas dependências da escola por inacreditáveis seis horas – das 10h da manhã até as 16h – sem receber qualquer tipo de atendimento médico ou socorro.
Erina Yamagute aos 10 anos de idade
Erina revelou que na escola é ensinado o conceito de "Gaman" (我慢), uma filosofia japonesa que prega suportar o insuportável com paciência e dignidade. Questiona-se se essa doutrina estaria sendo utilizada para justificar a omissão de socorro à criança, colocando em risco sua saúde.
A mãe, desesperada com a situação, levou Erina a um médico, que repreendeu a demora da escola, alertando para o grave risco de vida que a menina correu. Erina foi imediatamente internada e passou a noite em intenso sofrimento. As tentativas médicas de realinhar seu pescoço apenas agravaram a lesão, levando o profissional a admitir sua perplexidade: "Preciso pesquisar para tentar resolver o problema", teria dito o médico, demonstrando a gravidade da situação.
Desde o fatídico incidente, a família Yamagute peregrina por hospitais em busca de uma solução para a condição de Erina, que hoje, oito anos após a negligência escolar, ainda sofre as graves consequências da lesão. A busca por justiça e reconhecimento da responsabilidade da escola tem sido uma batalha árdua.
Sawaike Shogakko
A RPJ e o jornalista Toshio Sudo têm acompanhado a família, oferecendo assessoria jurídica. No entanto, o caso esbarrou em mais um obstáculo bizarro e revoltante: o Tribunal de Akashi, de forma surpreendente e inédita, negou a presença de um intérprete durante o processo. Essa decisão absurda viola flagrantemente os direitos da vítima estrangeira e os princípios básicos dos direitos humanos, levantando sérias dúvidas sobre o conhecimento e a aplicação de leis internacionais por parte da justiça local. Erina, que teve sua vida completamente alterada e hoje é incapaz de praticar esportes ou realizar tarefas cotidianas, clama por justiça: "Não consigo ter uma vida normal", desabafa, aconselhando outras crianças a sempre relatarem aos pais qualquer ocorrência na escola.
VEJA A REPORTAGEM DO CASO
O caso Erina Yamagute escancara um comportamento superficial e a apresentação de justificativas pífias por parte das autoridades japonesas quando se trata de estrangeiros. A resposta, nitidamente voltada à proteção do acusado (a instituição japonesa), configura uma clara violação dos direitos da vítima estrangeira, especialmente no que tange à essencial presença de um intérprete para garantir sua plena participação e compreensão do processo legal.
A RPJ reafirma seu compromisso em acompanhar de perto este caso emblemático de negligência, discriminação e profunda injustiça que esta jovem brasileira está sofrendo no Japão, buscando incessantemente por justiça e reparação.
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