A derrota do documentário "Black Box Diaries", dirigido pela jornalista Shiori Ito, no Oscar 2025, é um reflexo amargo da forma como crimes sexuais são tratados no Japão: com descaso e impunidade. O filme, que poderia ter sido o primeiro documentário japonês a vencer a premiação, retrata a luta de Ito para buscar justiça após denunciar o ex-repórter de TV Noriyuki Yamaguchi por estupro.
O caso aconteceu em 2015, quando Ito alega ter sido violentada após um jantar em Tóquio. Yamaguchi nega a acusação e, apesar das evidências apresentadas, não foi indiciado pela justiça japonesa por falta de provas. Diante da impunidade, Ito processou o agressor e escreveu um livro sobre sua experiência, tornando-se um dos principais nomes do movimento #MeToo no Japão.
A rejeição do documentário no Oscar ecoa a realidade enfrentada por vítimas de violência sexual no Japão, onde a cultura do silêncio e a resistência das autoridades em investigar esses crimes são barreiras constantes. A própria exibição do filme no país segue indefinida, devido a uma disputa sobre o uso de imagens de câmeras de segurança do hotel onde Ito afirma ter sido violentada.
Enquanto o mundo discute a importância de dar visibilidade a sobreviventes de agressão sexual, o Japão continua a ignorar essas vozes — e a derrota de Black Box Diaries no Oscar simboliza mais um capítulo dessa negligência institucional.
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