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"Minha casa, minhas regras... mas nem tudo convém": um alerta aos brasileiros no Japão

Expressão comum entre brasileiros que vivem no Japão serve de escudo para críticas internas, mas revela contradições sobre convivência, respeito mútuo e coerência de valores

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Entre os brasileiros que vivem no Japão, uma expressão tem se tornado cada vez mais recorrente nos discursos e debates, principalmente em redes sociais e grupos de mensagens: "minha casa, minhas regras". Usada muitas vezes para justificar críticas a conterrâneos — seja pelo comportamento, estilo de vida ou decisões pessoais —, essa frase ganhou ares de lema, quase como um escudo que separa “os certos” dos “errados” dentro da comunidade.

De fato, é legítimo que cada um estabeleça regras e condutas para sua própria casa. Afinal, o lar é um espaço privado, onde a autonomia e a liberdade de escolha devem ser respeitadas. No entanto, essa liberdade não deve ser confundida com carta branca para promover julgamentos desnecessários, preconceitos ou uma visão moralista unilateral.

Ao afirmar “minha casa, minhas regras”, muitos buscam afirmar controle e independência. Contudo, quando essa frase é usada como forma de atacar ou deslegitimar os outros — principalmente aqueles que enfrentam dificuldades de adaptação ou têm costumes diferentes —, o que era para ser uma defesa da liberdade se transforma em instrumento de intolerância.

Por isso, vale lembrar o complemento que propomos a essa ideia: "mas nem tudo convém". Nem tudo o que é permitido ou possível dentro da sua casa — ou mesmo dentro do seu direito de expressão — é, de fato, apropriado, justo ou construtivo. A convivência dentro da comunidade brasileira no Japão, marcada por diversidade de experiências, classes sociais e trajetórias, exige mais do que regras pessoais: exige empatia, compreensão e equilíbrio.

Assim como o Japão possui normas culturais e sociais rígidas que exigem respeito por parte dos imigrantes, o ambiente doméstico ou comunitário também deve refletir valores como respeito mútuo, discrição e solidariedade. Estar em "sua casa" não dá direito a menosprezar ou excluir quem vive diferente de você — especialmente em uma realidade onde todos, no fim das contas, estão tentando sobreviver, trabalhar e criar raízes longe do país de origem.

Curiosamente, essa expressão — que ganha tom de autoridade e julgamento — seria até mais compreensível se partisse dos próprios japoneses, donos legítimos da “casa” onde tantos brasileiros vivem como imigrantes. No entanto, o que chama atenção é que ela parte justamente dos próprios brasileiros, muitos dos quais já enfrentaram na pele os desafios da adaptação, da exclusão e do preconceito.

Essa contradição revela um comportamento preocupante: ao invés de promover acolhimento, parte da comunidade passa a reproduzir posturas de cobrança e divisão, como se esquecesse de sua própria jornada. Nesse contexto, o uso da expressão "minha casa, minhas regras" por brasileiros torna-se menos um ato de afirmação e mais um reflexo de distanciamento e julgamento interno — o que enfraquece a coesão e o apoio que tanto fazem falta àqueles que vivem longe de sua terra natal.

Vale lembrar ainda que o conceito de "casa" vai muito além das paredes de um lar físico. "Casa" pode ter vários significados — pode ser um ambiente familiar, comunitário, religioso, ou até simbólico, como o coração. Em textos bíblicos, por exemplo, a expressão "arruma tua casa" aparece como um chamado à reorganização interior, à correção de atitudes e à reflexão sobre os próprios valores.

Nesse sentido, quando alguém diz "minha casa, minhas regras", está, na verdade, revelando muito mais do que regras domésticas — está expondo o que carrega dentro de si. Sua casa é o que habita o seu coração. Se nela há respeito, empatia e sabedoria, isso se refletirá nas atitudes. Mas se há julgamento, rigidez e desprezo pelos outros, também será isso que se espalhará ao redor.

Portanto, antes de usar essa expressão como justificativa para apontar o dedo, talvez valha a pena perguntar: que tipo de casa você está construindo dentro de você?

Em resumo, a frase "minha casa, minhas regras" é válida enquanto estabelece limites pessoais. Mas ela precisa ser usada com consciência de que, em qualquer espaço de convivência, a regra maior deve ser o respeito. Afinal, viver no Japão como brasileiro já é, por si só, um ato coletivo — e esse coletivo merece mais escuta do que julgamento.

Porque no fim, a verdadeira regra deveria ser: liberdade com responsabilidade, e opinião com respeito.

Fonte/Créditos: Da redação/Brasil

Créditos (Imagem de capa): RPJNEWS-BRASILEIROS

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Toshio Sudo

Publicado por:

Toshio Sudo

Toshio Sudo é um jornalista multifacetado, formado pela Universidade Braz Cubas.Sua habilidade em investigar, reportar e comunicar informações de forma clara e objetiva, aliada à sua experiência em assessorar estrangeiros, o tornam um...

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