“Este é o Japão, então não traga a cultura estrangeira, apenas se adapte ao Japão.” Foi com essa frase, dita de forma abrupta e agressiva por um desconhecido em um trem, que Jigyan Kumar Thapa, 46 anos, natural do Nepal e residente na província de Kanagawa, viveu um episódio de preconceito em agosto deste ano. O homem fixava os olhos no topi, chapéu tradicional nepalês usado por Thapa como parte de sua identidade cultural.
Há 25 anos vivendo no Japão, o imigrante afirmou que nunca tinha passado por algo semelhante. “Só de andar por aí usando um chapéu nepalês, me sinto cada vez mais observado, porque sou estrangeiro. É a primeira vez que sinto tanto medo em meus 25 anos morando aqui”, relatou.
Naquela noite, abalado, Thapa publicou no X (antigo Twitter) sobre a situação. Até então, usava as redes apenas para compartilhar informações do Nepal, raramente postando sobre sua vida pessoal. “Talvez eu só quisesse ouvir alguém dizer: ‘Não é sua culpa’”, escreveu. O desabafo rapidamente viralizou: em poucas horas, recebeu mais de 16 milhões de visualizações e mais de 3 mil comentários até 22 de setembro.
O que poderia ser um espaço de solidariedade, no entanto, se transformou em alvo de críticas hostis. Muitas respostas culpavam estrangeiros por crimes no Japão ou os acusavam de má educação. “Isso é resultado do comportamento arrogante de alguns estrangeiros”, escreveu um usuário. Outro foi ainda mais agressivo: “Você teve o que merecia. O que se faz, se paga”.
O impacto foi tão grande que Thapa passou a evitar usar o topi em público, guardando-o na bolsa para não atrair novos ataques. “Esse chapéu é tão importante para mim quanto uma gravata em uma reunião de trabalho. Mas agora tenho medo de ser confundido e sofrer agressões”, disse. Entre a comunidade nepalesa, o caso gerou indignação e medo. Alguns alertaram: “Se eu usar um topi, posso ser confundida com você e acabar me machucando”.
O episódio evidencia a crescente atmosfera de xenofobia no Japão, que tem deixado estrangeiros inseguros. O tema, antes pouco debatido, ganhou destaque nas eleições para a Câmara dos Vereadores em julho e deve aparecer novamente na corrida pela presidência do Partido Liberal Democrata (PLD), marcada para 4 de outubro.
Segundo dados oficiais, em junho de 2024 havia 206.898 nepaleses vivendo no Japão, número que vem crescendo ano após ano. Apesar da contribuição econômica e social dessa comunidade e de outras nacionalidades, muitos imigrantes relatam que o clima de hostilidade tem se intensificado.
Para Thapa e tantos outros, o que antes era convivência pacífica agora se mistura com medo e insegurança. “É como se, de repente, tivéssemos nos tornado alvo de desconfiança apenas por mantermos nossa cultura”, resumiu um estrangeiro.
O desafio que se impõe ao Japão é claro: combater a xenofobia e construir um ambiente mais inclusivo e respeitoso para os milhares de imigrantes que já fazem parte da vida cotidiana do país.
Fonte/Créditos: Da redação-Jigyan Kumar Thapa
Créditos (Imagem de capa): Jigyan Kumar Thapa-Rede Social
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