Hoje em dia, é impossível falar da história do Brasil — de seu desenvolvimento, culinária, educação, medicina e agricultura como expressões da cultura nacional — sem reconhecer a importância dos imigrantes japoneses. Eles são parte essencial do Brasil.
Desde o final da década de 1980, com a chegada dos primeiros trabalhadores brasileiros ao Japão — o início do fenômeno dekassegui — formou-se a expectativa de uma simbiose cultural e econômica entre dois povos ligados pela imigração. Quase 40 anos depois, esse intercâmbio resultou em um cenário de exclusão e políticas ambíguas, com o Japão resistindo à pluralidade cultural exigida pelo mundo moderno.
O Brasil Acolheu, o Japão Rejeitou
Durante e após a Segunda Guerra Mundial, o Brasil acolheu milhares de japoneses em fuga da devastação. Seus descendentes prosperaram, formaram associações (Kaikans), integraram-se à sociedade e se tornaram parte do Brasil. Mas quando os filhos e netos desses imigrantes retornaram ao Japão como mão de obra barata, encontraram um país fechado, desconfiado e resistente à integração. Foram tratados como gaijins — estrangeiros indesejados.
A Falácia da Integração
Nada foi feito de forma efetiva pelo governo japonês para integrar os brasileiros. Não houve investimento em educação bilíngue, nem políticas públicas de inclusão. Enquanto o Brasil incorporou a cultura japonesa, o Japão falhou em reconhecer os brasileiros como parte legítima de sua sociedade.
Décadas se passaram. Os dekasseguis criaram famílias, fundaram comunidades inteiras, mas continuam enfrentando exclusão institucional e, agora, discursos xenofóbicos vindos de lideranças políticas.
Por fim, é importante destacar uma comparação histórica que ainda pesa: enquanto os japoneses que imigraram para o Brasil ao longo do século XX conseguiram se integrar com êxito à sociedade brasileira — e muitos genuinamente desejavam essa integração —, os dekasseguis, mesmo após mais de 30 anos de presença no Japão, continuam enfrentando desafios iguais ou até mais severos do que os vividos há quatro décadas. A integração permanece parcial, o reconhecimento ainda é limitado, e a invisibilidade social segue sendo uma marca dolorosa da experiência brasileira no Japão.
O Nacionalismo Escancarado
Nos últimos meses, discursos como os do primeiro-ministro Ishiba causaram repulsa:
“Devemos fazê-los aprender a complicada língua japonesa e os costumes, e permitir apenas a entrada de pessoas legais no país.”
A promessa de “zero estrangeiros ilegais” e o controle rigoroso do histórico dos imigrantes revelam uma guinada nacionalista perigosa. O mesmo governo que admite o colapso demográfico — com uma perda de quase 900 mil pessoas por ano — fecha as portas a quem poderia renovar o país.
Redes Sociais e Resistência
O que antes era abafado pela mídia, agora ecoa nas redes sociais. A RPJ e outras vozes vêm denunciando a fragilidade de uma cultura que se recusa a evoluir. Paradoxalmente, essas denúncias são atacadas até por estrangeiros que lucram com a imagem “amigável” do Japão.
A falta de políticas públicas atinge até mesmo os brasileiros que desejam empreender. Criar uma empresa ou obter crédito é um desafio. Além disso, filhos de brasileiros nascidos no Japão não têm direito automático à cidadania, o que aprofunda o sentimento de exclusão.
A própria comunicação é limitada. Não há concessão de rádio ou TV para brasileiros no Japão. A informação circula pelas redes sociais, mas isso também gerou desinformação e manipulação por grupos oportunistas. Muitos canais que deveriam informar, se tornaram porta-vozes de interesses políticos.
A Cultura que se Recusa a Mudar
Enquanto o Japão exige que os estrangeiros se adaptem, ignora a via contrária da convivência. Diferente do Brasil, que nunca pediu nada aos japoneses que acolheu, o Japão quer controlar quem entra, como vive e o que pensa. Trata-se de uma cultura presa à ideia de pureza étnica e superioridade moral que não se sustenta no século XXI.
Hora de Refletir
É hora de a comunidade brasileira refletir. O Japão não demonstra disposição em reconhecer a contribuição dos imigrantes. Ao contrário: discrimina, marginaliza e reforça barreiras. O Brasil, com todos os seus desafios, ainda é um país de possibilidades. Não podemos continuar a romantizar o Japão como terra prometida.
Conclusão: A História se Reescreve
O Japão parece não ter aprendido com sua própria história — nem com a guerra, nem com a paz, nem com a generosidade que recebeu de países como o Brasil. Talvez seja a hora de deixarmos de pedir respeito e começarmos a exigir dignidade — ou simplesmente, partir.
Fonte/Créditos: Da redação
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